Na hora do voto

O que motiva o voto do eleitor brasileiro? Na sua estreia, o blog Esfera Pública fez uma entrevista com o professor Emerson Cervi, cientista político da UFPR, buscando respostas para entender como o cidadão pensa e age a poucos dias de uma nova eleição que definirá os rumos do país.

1) O que o eleitor leva em consideração na hora do voto?

A população vota no candidato que atende a seus interesses econômicos. Por exemplo, nas eleições presidenciais, cerca de 80% dos votos são motivados pelo critério econômico. Apenas cerca de 20% vota levando em consideração o partido político e as posições ideológicas. As pessoas votam de acordo com suas necessidades, por exemplo, em uma comunidade a população vota no candidato que prometeu trazer o asfalto para aquela localidade, mas isso não quer dizer que seja um ato de egoísmo.

2) O Bolsa Família seria um exemplo de fato gerador de votos?

Sim.

3) As propostas dos candidatos seriam o fator mais importante na hora da escolha do voto?

É pelas propostas que o eleitor mede o grau de consistência do candidato. Os candidatos elaboram suas propostas de acordo com consultas populares, que indicam quais as necessidades e expectativas da população, ou seja, é o eleitor que controla a agenda de temas dos políticos.

4) Há movimentos em favor do voto nulo para combater a corrupção e melhorar a qualidade dos andidatos. O voto nulo produz algum efeito?

O voto nulo não contribui em nada para combater a corrupção ou melhorar a qualidade dos candidatos. A população de baixa renda não vota nulo, pelo contrário, pratica o voto útil. O voto nulo é defendido por pessoas acomodadas, geralmente de classe média. Votar nulo apenas contribui para que candidatos clientelistas sejam eleitos.

5) Por que clientelismo é tão presente na cultura política brasileira?

O clientelismo não existe só no Brasil, mas faz parte da cultura política brasileira sim. Esse problema está diretamente relacionado com a desigualdade social, mas não necessariamente à pobreza. É nos locais com maior desigualdade social em que há uma maior incidência das práticas clientelistas e paternalistas.

6) Você acredita que a aplicação da lei Ficha Limpa será eficiente no Brasil? O que acha desse projeto?

Acredito que é um projeto bem intencionado, que aponta para medidas necessárias. O problema é que com a aplicação da lei Ficha Limpa, a responsabilidade de decidir quem é ficha suja ou não, fica a cargo do poder judiciário. Isso funcionaria bem se tivéssemos um judiciário imparcial, que não tomasse decisões políticas, o que infelizmente não é o nosso caso. Se o poder judiciário deixar de acatar uma denúncia contra um candidato, o eleitor vai ter a impressão de que ele é ficha limpa e vai continuar reelegendo candidatos com histórico de corrupção.  O lado ruim disso é a transferência do poder de escolha do eleitor para o judiciário, o que é prejudicial para a democracia. O eleitor perde uma oportunidade de aprendizado e amadurecimento a longo prazo que faz parte do processo democrático.

7) Até que ponto as pesquisas eleitorais influenciam a eleição?

A influência varia de acordo com o tipo de eleição. As pesquisas influenciam quando há um candidato muito na frente. Ele tende a receber ainda mais votos. Mas isso pouco influencia o resultado geral, pois esse candidato já estava na frente. No caso de uma eleição polarizada, a pesquisa estimula o eleitor a votar, em qualquer um dos candidatos que disputam a liderança.

8) Os escândalos políticos relacionados com corrupção que surgem no período eleitoral influenciam de alguma forma a decisão do eleitor?

Influenciam pouco, o impacto é muito baixo. Em geral, a corrupção não é um tema que mobiliza o eleitor.

9 ) As redes sociais, como Twitter, estão influenciando de alguma forma na eleição? E os e-mails que espalham boatos, os HOAX?

Influenciam pouquíssimo.  É uma parcela pequena da população que tem acesso à internet e na maioria das vezes são pessoas com tendências políticas já consolidadas antes da eleição. As redes sociais não mudam a cultura política.

10) Dizem que atualmente o grau de despolitização da população é grande. O senhor concorda com essa afirmação?

Não. A população não é despolitizada, apenas deixou de se apegar a ideologias. Muitos partidos lamentam isso porque o eleitor ideológico é mais fácil de controlar do que o eleitor racional, pois o primeiro tende a votar sempre no mesmo partido. O que acontece é que a política não é prioridade na vida do cidadão, ele tem outras demandas prioritárias.

Foto: Melissa Andreata

Emerson Cervi, Cientista Político da UFPR

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